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Ações da Petrobras: comprar ou vender?

As ações da Petrobras sempre estão nos holofotes, mas será que vale a pena investir na empresa?

Entra ano, sai ano e a Petrobras continua sendo uma das empresas mais comentadas, não só do mercado financeiro, mas do país como um todo. Também pudera, a empresa está sempre disputando o título de mais valiosa do Brasil e suas ações comumente são as de maior liquidez.

Existe uma relação de amor e ódio do mercado com ela. Amor quando a administração está trabalhando alinhada aos interesses da maioria dos acionistas e o quando o preço do petróleo está em ascensão. Ódio quando existe interferência política que leve a diminuição das receitas e dos lucros.

Muita gente ganhou dinheiro e muita gente tem perdido dinheiro, cabelo, paciência e sono investindo na empresa. A questão é saber se comprar estas ações ajuda ou atrapalha seus investimentos. É o que irei tentar responder neste artigo.

A história e os resultados da Petrobras

A estatal foi fundada em 1953 por Getúlio Vargas. A origem da empresa esteve ligada a leis que determinavam o monopólio estatal sobre o setor do petróleo, além da criação do Conselho Nacional do Petróleo.

Esse modelo durou até 1997, quando durante o governo Fernando Henrique, foi promulgada uma lei que permitia a outras empresas atuarem no setor.

A Petrobras atualmente possui forte know-how na exploração de campos de petróleo no mar, com especial atenção aos campos ultra-profundos do pré-sal. Ao mesmo tempo ainda permanece com praticamente o monopólio no segmento de refinarias, sendo formador de preço neste mercado. Falei mais sobre isso no artigo sobre a greve dos caminhoneiros.

A empresa também começou a investir em termoelétricas no ano 2000 e possui várias usinas em operação hoje em dia.

Os números do 1º trimestre de 2018 foram muito positivos. O lucro líquido foi de 6,9 bilhões de reais, com alta de 56% em relação ao mesmo período de 2017.  EBITDA ajustado foi de 25,6 bilhões, alta de 2%. A produção totalizou 2,6 milhões de barris no período. O endividamento também foi reduzido e os prazos para pagamento alongados.

Enfim, a companhia estava recuperando dos maus números de anos anteriores, quando chegou a prejuízos bilionários nos anos de 2014, 2015 e 2016 e um prejuízo apenas milionário em 2017. Lembrando que em 2010 o lucro da empresa foi de 35 bilhões de reais.

Aqui em vou abrir um parêntese. Esse prejuízo de 2017 teve 2 fatores importantes. O primeiro foi em função de adesão a programas de regularização de débitos federais, que custou 10,4 bilhões. E o segundo foi o acordo feito pela empresa com acionistas nos Estados Unidos.

O acordo em Nova Iorque foi para encerrar uma ação coletiva movida por americanos  detentores de ações e títulos da estatal. Ela havia sido movida em virtude dos prejuízos causados a eles pelo envolvimento da empresa nos casos de corrupção investigados pela Lava-Jato. A conta para a Petrobras encerrar o assunto ficou em 11,2 bilhões de reais!

Aí eu lhe pergunto: Os acionistas brasileiros também não foram prejudicados pela corrupção dos executivos da empresa? Onde estão os grandes acionistas brasileiros para mover uma ação como a dos americanos?

Quem comprou ADR da empresa ou realizou transações com alguns títulos que preenchessem determinados critérios, receberá um pagamento da empresa. Existe até um site mantido pelos acionistas que moveram a ação, onde estão todos os detalhes.

Impressionante como a empresa é a mesma, mas o americano é ressarcido e o brasileiro fica a ver navios. Entendeu como, em geral, a lei impera nos Estados Unidos? Quer listar ações da sua empresa na Bolsa de Nova Iorque? Terá que seguir as leis de lá.

Conflito de interesses

O grande problema de investir na Petrobras é o conflito de interesses. A empresa tem um acionista majoritário, a união federal, dona de 50,26% das ações ordinárias. E aí entra a questão de quem é o presidente do país, responsável pela nomeação do presidente da Petrobras. A colocação do competente Pedro Parente foi um grande acerto de Michel Temer, mas a forte alta de preço dos combustíveis, que culminou na greve dos caminhoneiros fez o governo federal intervir na administração da empresa. Essa interferência externa, que vai contra uma gestão com foco em resultados e não em populismo, fez com que Parente pedisse demissão e as ações da estatal implodiram imediatamente.

Pior do que isso aconteceu no governo anterior, quando, além do preço do barril estar em baixa, a empresa subsidiou combustíveis para segurar artificialmente a inflação. Sem falar da refinaria nacionalizada pela Bolívia e da compra superfaturada da refinaria de Pasadena. Foram tantos escândalos, que culminaram na prisão de inúmeros executivos da estatal.

Quando eu compro ações de uma empresa, eu não quero que ela seja entidade assistencial, antro de corrupção, objeto de manipulação da inflação, ou que ela favoreça determinado grupo abaixando preços para ele. Quero que o foco seja o acionista. Quero ser remunerado a partir dos resultados da empresa. Agora, quando a empresa tem outros objetivos, que não crescer o patrimônio, lucrar mais e distribuir dividendos, não vejo porque se manter acionista dela por um longo período.

Por outro lado, é possível operar e tentar extrair lucro no vai e vem das crises maníaco-depressivas da Petrobras. Comprar as ações nos momento de maior pessimismo, aguardando que as coisas entrem nos eixos pode dar bons resultados. Entretanto, é para quem tem estômago e não se emociona com a flutuação de preços. É um tipo de risco que não considero adequado para o pequeno investidor.

Outras empresas do setor de petróleo

O grande problema para o investidor brasileiro é que o setor de petróleo é tido com um setor bastante lucrativo. Mesmo com os altos e baixos da commodity, as grandes empresas do setor são longevas e costumam ter bons números.

O brasileiro investidor da B3 tem apenas a Petrobras e algumas outras empresas menores, como Petrorio, QGEP Participações e a famigerada OGX. Você simplesmente não tem um porto seguro neste setor, uma empresa em que você pode confiar para fazer o seu patrimônio crescer.

Nos Estados Unidos existem ações de dezenas de empresas petrolíferas. Não encontrei um número exato, porque depende de quem classifica, mas existem entre 50 e 100 empresas ligadas a petróleo com ações listadas nas bolsas americanas.

Existem empresas gigantes como ExxonMobil, Chevron e ConocoPhilips e outras que participam de maior ou menor parte da cadeia petrolífera, como Phillips 66, Apache Corporation, Occidental Petroleum, Valero Energy, etc.

Além disso, é possível investir de forma diferente com a compra de cotas das Master Limited Partnerships ligadas ao setor de óleo e gás. Eu expliquei sobre elas em um artigo anterior sobre investimento para renda.

Veja só no gráfico abaixo a evolução das ações da Petrobras, Exxon Mobil, Chevron e Valero Energy na Bolsa de Nova Iorque nos últimos 18 anos:

Ações da Petrobras

Veja como as ações da Petrobras tiveram um pico de valorização muito forte em 2008. Sofreram com a crise financeira neste mesmo ano, mas recuperaram em 2009. Daí em diante as ações foram ladeira abaixo.

A ExxonMobil e a Chevron seguiram meio juntas durante muito tempo, estiveram em baixa nos últimos anos, mas estão recuperando. Mesmo assim, durante esse longo período a Chevron rendeu quase o dobro.

A Valero é a maior companhia independente de refino dos Estados Unidos. São 14 refinarias não só em sua terra natal, como também no Canadá e Reino Unido. Além disso, a empresa ainda produz etanol. Os resultados estão aí no gráfico. Nos últimos 12 meses, os resultados surpreenderam e a ação dobrou de preço.

Conclusão

Investir nas ações da Petrobras é para quem está disposto a fortes emoções. A empresa não está totalmente alinhada aos interesses dos acionistas, exceto a União, e fica sempre sujeita à instabilidade do sistema político e a interesses que não o puramente empresarial.

Se você entende dos riscos e acha que consegue encontrar os momentos de entrada e saída e quer especular, aí fica a seu critério operar nestas condições.

O mundo está à seu dispor, tão cheio de oportunidades, que não vejo motivos para o pequeno investidor insistir em algo tão incerto quanto às ações da Petrobras. Na dúvida entre comprar e vender, eu prefiro nem chegar perto.

Este post tem 16 comentários

  1. Douglas

    Olá,

    Sou da sua opinião, também prefiro nem chegar perto …

    Quero ficar bem longe de renda variável no BR, quando comparamos as empresas listadas na bolsa americana com a brasileira é de se fazer chorar.

    As que valem a pena muito provavelmente estão listadas na NYSE.

    Como me inscrevo na newsletter ?

    Abraços

  2. W. Viana

    Hi Investidor, ja pensou na possibilidade de disponibilizar a opcao de imprimir os artigos? Abcs,

      1. Jailton

        Olá.
        Sou da mesma opinião do Viana.
        Sempre pego os seus artigos e copio e colo no Word para um colega meu, deficiente visual, poder ler com o aplicativo dele. Mas sempre tem uma ou outra propaganda no meio.
        Seria uma boa, uma versão limpa para impressão.
        Abraços.

  3. Erom Freitas

    Mais uma vez um artigo excelente! Parabéns! Abçs!

  4. Olá II,

    Parabéns pelo post.

    Eu fico longo da Petrobras. Muito rolo. O governo interfere demais. Aliás, a maioria das empresas estatais que estão na bolsa o governo faz alguma merda de vez em quando.

    Abraços.

    1. Olá Cowboy,

      Concordo com você. A quantidade de eventos imprevisíveis torna o investimento bastante incerto.

      Mais dia, menos dia, o governo vai acabar prejudicando os pequenos acionistas.

      Abçs!

  5. Investidor Internacional,

    Muito apropriado o seu post para o momento atual do país.
    O gráfico final resume bem em que resultou a intervenção excessiva na Petrobrás, pois o conflito de interesses é maior do que o suportável pela empresa.

    “Quando eu compro ações de uma empresa, eu não quero que ela seja entidade assistencial, antro de corrupção, objeto de manipulação da inflação, ou que ela favoreça determinado grupo abaixando preços para ele. Quero que o foco seja o acionista. Quero ser remunerado a partir dos resultados da empresa.”
    Esse trecho ficou perfeito.
    Eu nunca investi em empresas públicas e com a situação atual prefiro continuar mantendo distância.

    Abraços,
    Simplicidade e Harmonia

    1. Olá Rosana,

      É maior que o suportável para mim também. Agora que eu já tenho uns 12-13 anos de bolsa e vi toda essa montanha-russa da Petrobras, decidi que não é pra mim.

      Quem investiu na época de ouro e segurou até agora está amargando um grande prejuízo.

      Abçs!

  6. VDC Informaremos

    Olá II,

    Muito interessante. No momento, vejo outras empresas melhores e com menor intervenção estatal. Vejo algo similar no Banco do Brasil, o que me leva a deixar estas empresas fora de meu portfólio. Excelente artigo. Um abraço

  7. Dionisio

    Olá
    Inicialmente parabéns pelo site tem me ajudado muito e mudado minha forma de investimentos
    Teria uma sugestão para um post sobre as ADRs (as melhores, tributação taxas etc..)já que encontram se em bons preços .

    1. Olá Dionísio,

      ADRs são recibos de ações estrangeiras negociados nos Estados Unidos.

      Vou pesquisar em maiores detalhes pra ver se vira um post.

      Abçs!

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